domingo, abril 20, 2008

ALIANÇA PIMENTEL-AÉCIO: A POLÊMICA DA ESCÓRIA DE CIRO GOMES

Um artigo publicado no Jornal O Tempo sobre a aliança PT-PSDB em Belo Horizonte, levanta a polêmica sobre a escória de Ciro Gomes.

Do Jornal O Tempo , 19/04/2008.

A escória de Ciro

VITTORIO MEDIOLI
Recebi uma carta da Assembléia Legislativa de Minas que informa o voto de repúdio ao Ciro Gomes subscrito por 16 deputados. Motivo do qüiproquó é a declaração de 20 de março do ex-governador do Ceará, "Aqui o que eu vejo é que a escória da política não tem espaço.

A hegemonia moral e intelectual que preside esse movimento que Minas está fazendo é tão eloqüente e importante que a escória da política deve estar apavorada com isso". Ciro abriu assim as comportas da insolência, mais uma vez, contra os que não aprovam a aliança PT/PSDB, aliança em volta de seu pupilo e ex-secretário Márcio Lacerda para prefeito de Belo Horizonte.

Quem não quer saber dessa aliança em Minas são pessoas (talvez não atinou o boquirroto) como os ministros Luiz Dulci e Patrus Ananias que representam a vertente mais "moral e intelectual" do PT.

Mas há muitos outros, que possuindo uma intelectualidade mais avantajada que a tropa de "comissionados e apadrinhados", enxergam na aliança Frankestein um casuísmo. Melhor, uma fórmula sutil de golpe branco que tolherá o eleitor de Belo Horizonte do direito de escolha. Dar-se-ia uma eleição que lembra as eleições em Cuba durante os últimos 50 anos.

Lá vence apenas um partido porque existe só um e apenas um candidato. Castra-se assim como machado o princípio básico da democracia moderna, a alternância no governo e na oposição fiscalizadora.

Não sei que "intelectualidade" pode se ajoelhar a uma fórmula sem propostas, sem programas, sem meta diferente que o poder pessoal de algumas pessoas diretas, beneficiárias desse acordo.

Ciro provavelmente tem algo a ganhar também, mas não o revela. O ex-governador se agita para defender a escolha de seu pupilo Marcio de Lacerda, ex-tesoureiro de sua campanha, ex-secretário executivo de seu ministério e titular (segundo a "Folha de S.Paulo") de 82% das doações para a campanha presidencial de Ciro em 2002.

Ainda principal articulador da transposição do São Francisco que assalta a região mais pobre de Minas em suas parcas reservas para o futuro. E por falar de "moral", ingrediente que Ciro usa como se fosse sua exclusividade, Marcos Valério declarou, e nunca desmentiu ter entregado a Lacerda R$ 1 milhão para cobrir dívidas de campanha de Ciro.

Ciro, na época, afirmou que processaria Marcos Valério por essa infâmia. Ele o fez? Mesmo com isso consegue enxergar uma "hegemonia moral" ao lado de seu pupilo, como se fosse hegemonia quem conspira contra seu próprio Estado, e uma "escória da política" que se opõe.

Em sua terra natal, Ciro considera "hegemonia moral" o irmão governador que viaja à Europa com mulher e sogra em jatinho alugado por R$ 388,5 mil, ainda com direito a diárias, e "escória" quem protesta por este assalto ao erário do paupérrimo Ceará. Afinal, de que lado está a escória de Ciro?

Comentário do blogueiro:
O presidenciável Ciro Gomes volta e meia se excede nas palavras, além de se colocar numa superioridade ética e moral. Na tão propalada aliança mineira, o deputado cearense classificou como escória os políticos contrários à aliança esdrúxula entre PT-PSDB, sob a tutela do candidato do seu partido, o PSB.

A hegemonia moral de Ciro Gomes tem perna curta. Sem ater aos detalhes, nunca ele esclareceu como foram pagas suas dívidas da campanha de 2002. Depois, fez de seu secretário executivo no Ministério da Integração Nacional justamente o principal financiador de sua campanha, o próprio Márcio Lacerda, pré-candidato na aliança de Belo Horizonte. É só um começo.

Mas o que intriga mesmo é sua capacidade de inversão dos fatos. Aécio Neves, sem entrar no mérito de seu governo, é ligado ao que existe de mais tradicional na política mineira. Pimentel aliando-se com Aécio Neves se credencia para obter o apoio desse grupo político para uma candidatura ao governo do Estado. É a velha política clientelista das antigas famílias se perpetuando. Enfim, a verdadeira escória. Daí aparece o Ciro Gomes para dizer que na aliança de Belo Horizonte não tem lugar para a escória. Políticos mais comprometidos com a questão ética e moral dentro do PT como Patrus Ananias e Luiz Dulci, contrários à aliança, passaram a ser escória. Será esse o entendimento de Ciro Gomes? Inaceitável o posicionamento do presidenciável.

O artigo também tocou num ponto fundamental: a possibilidade da aliança representar um golpe branco que tolherá o eleitor de seu direito de escolha. Só assim alguém sem qualquer representatividade política na capital mineira como Márcio Lacerda poderá tornar-se prefeito. Pimentel e Aécio manipulam pesquisas para dizer que a população apóia a aliança PT-PSDB. O que isso quer dizer com relação à candidatura de Lacerda? Absolutamente nada. A população aprova a aproximação entre PT e PSDB, não o acordo como está sendo feito. Não tem nada que os autorize a dizer isso.

Sobre Ciro Gomes, é um político de qualidades, não escondo certa admiração, mas tem seus pecados. Só acrescento que ele não é mineiro, muito menos belo-horizontino. A eleição na capital mineira não lhe diz respeito. O fato de que o acordo costurado pela dupla Aécio-Pimentel favoreça seu principal financiador não é motivo para aceitar seu descontrole verbal. É isso.
Clique aqui para saber mais sobre o acordo Pimentel-Aécio (PT-PSDB) em Belo Horizonte.

Um comentário:

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