Ana Paula Scinocca, no "Estadão" de hoje
Depois de derrotar o governo e pôr fim à CPMF, a oposição pretende daqui para a frente aproveitar todas as chances de desgastar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Isso tem uma razão: evitar que, em 2010, Lula ainda tenha silhueta de candidato ou de forte cabo eleitora.
Líderes do PSDB e do DEM, os dois principais partidos da oposição, sabem que não podem repetir o erro cometido em 2005. À época, acharam que o desgaste natural de Lula no escândalo do mensalão iria prejudicá-lo na campanha à reeleição. Não foi o que se viu. Agora, caciques e parlamentares das duas siglas estão convencidos de que precisam trabalhar com os erros do adversário.
Dois dos principais estrategistas da oposição, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e o ex-senador e ex-presidente do DEM Jorge Bornhausen estão convencidos de que o governo não pode ter uma agenda positiva. Eles acham que o desgaste de Lula é a única maneira de os dois partidos chegarem a 2010 com alguma chance de voltar ao poder. Embora ressalve que o petista não tem perfil de ditador, Fernando Henrique tem expressado o temor de o PT, na ausência de um candidato de peso, ressuscitar a tese do terceiro mandato.
“Lula não pode chegar em 2010 com a popularidade de 60%. Se repetir o fenômeno Aécio Neves em Minas, que sem oposição tinha bons índices de popularidade, ninguém supera o PT no próximo pleito”, afirmou o novo presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), em conversa informal no cafezinho do Senado na segunda-feira.
O DEM vai aproveitar a temporada de combate ao PT para fazer renascer as idéias liberais que deram origem ao partido. O combate ao aumento de impostos e à gastança do governo foi uma pitada inicial do que vem por aí.
O partido pretende ataques mais ousados , em 2008, mas sem dar ao governo o discurso de que a oposição aposta no quanto pior, melhor. “Não temos de fazer essa linha. A oposição tem de administrar o seu dia-a-dia e trabalhar com os erros e fraquezas do governo”, analisa o senador Heráclito Fortes (DEM-PI). Ele afirma que não foram os oposicionistas que articularam a derrota do Planalto no Senado com a derrubada do imposto do cheque.
“Foi o governo que perdeu, pois não conseguiu unir sua base e ter 49 votos para aprovar a CPMF”, completa.
O prefeito do Rio, César Maia (DEM), afirma que 2008 é um ano “muito importante” para a oposição. “A base do governo se fraciona nas eleições municipais, pois estas são vitais para as eleições a deputado federal e estadual dois anos depois”, argumenta. “Com a base do governo fracionada a oposição terá um ano, de julho de 2008 a julho de 2009, até que as feridas da base sejam cicatrizadas. É saber aproveitar.”
Comentário do blogueiro:
Como se vê, a oposição não tem tanta certeza da vitória em 2010 como alegam os noticiários de jornais. O fato do PT não ter candidato natural não significa derrota prévia. Como sabemos que o fenômeno de transferência de votos existe (só não transfere quem não tem votos para transferir) - o maior cabo eleitoral de 2010 ainda é Lula. E por esse motivo, o melhor para a oposição é enfraquecê-lo para a reconquista do poder.
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