quinta-feira, janeiro 29, 2009
Racha na oposição: PSDB vai apoiar o petista Tião Viana (AC) e DEM ficará com Sarney
O risco Tião Vianna
Governo amplia o alcance do Bolsa Família e oposição critica
O aumento no teto da faixa de renda para ingressar no Bolsa Família vai representar 1,3 milhão a mais de famílias beneficiadas neste ano, segundo informou o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). Atualmente, 11 milhões de famílias são beneficiadas pelo Bolsa Família. Com o aumento, o programa passará a abranger 12,3 milhões no decorrer deste ano. A inclusão das novas famílias será feita de forma escalonada. Em maio, serão incluídas 300 mil. Em agosto, 500 mil e mais 500 mil em outubro.
Desde o início do agravamento da crise internacional o governo vem tomando uma série de medidas para manter o nível da atividade produtiva, preservando emprego e renda. Entre as medidas encontram-se liberação de compulsório para os bancos, incentivos fiscais (redução do IPI, por exemplo), liberação de recursos para o BNDES e outros programas específicos para os setores da economia. Um dos programas mais aguardados é o Plano Nacional de Habitação que pretende elevar em 50% o número de moradias novas construídas em 2009.
As medidas do governo são acertadas, pois preservam o emprego e renda. Todavia, a oposição política não levantou levante contra as medidas que beneficiaram o sistema bancário ou as montadoras de veículos. Mas, quando se trata de elevar o alcance do Bolsa Família, a oposição volta com aquela lenga-lenga de medida eleitoreira. Embora não haja eleição neste ano, o discurso tosco da oposição é como samba de uma nota só: qualquer medida para proteger a população mais pobre dos efeitos da crise é eleitoreira. Veja aqui na Folha On Line.
O senador Sérgio Guerra, presidente do PSDB, disse que a oposição vai tomar providências contra o "pacote social" de Lula. Segundo ele, a medida visa atrair eleitores para 2010. No raciocínio da oposição política, o governo não pode tomar medidas que beneficiem os mais pobres, justamente os mais sensíveis a momentos de crise internacional, mas somente aquelas que beneficiam setores mais privilegiados da sociedade (isto é, os eleitores mais fiéis do PSDB). É a essa a oposição política que temos hoje em dia.
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quarta-feira, janeiro 28, 2009
Crise Econômica reforça a importância do Estado
Para Patrus Ananias, “estamos virando essa página com a clareza de que o Estado é fundamental para normatizar o mercado, protegendo e promovendo os economicamente mais fracos e impedindo os abusos que tivemos e pelos quais estamos pagando um preço tão alto”, disse o ministro à Empresa Brasil de Comunicação (EBC). “O pacto que firmamos é que os pobres não irão pagar essa conta e que as políticas sociais devem ser mantidas, aperfeiçoadas e ampliadas”, completou. Clique aqui para saber mais no sítio do PT.
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Mídia, demos e a tragédia da Renascer
Do Blog do Miro
Mídia, demos e a tragédia da Renascer
Altamiro Borges
O sempre atento Nivaldo Santana, vice-presidente da CTB e ex-deputado estadual, postou no seu blog uma notinha reveladora do caráter da mídia. “O Bispo Gê Tenuta, o responsável pela Igreja Renascer, já foi deputado estadual e hoje é suplente de deputado federal pelo DEM/SP. Parece, inclusive, que vai assumir o mandato. Não vi uma única linha que tocasse nesta condição política do religioso. A mídia não quer associar a tragédia, que resultou na morte de nove pessoas, com a prefeitura. Kassab e Bispo Gê são do mesmo partido. Tanto a prefeitura como os responsáveis da igreja descuidaram de itens essenciais à segurança dos fiéis”, registra o texto “empresário da fé”.
A manipulação da mídia, como alerta Nivaldo, é realmente impressionante. Se o tal bispo tivesse apoiado Marta Suplicy na eleição paulistana, com certeza o vínculo seria manchete dos jornalões e das revistas. O “colunista” Arnaldo Jabor, cuja esposa, Suzana Villas Boas, presta assessoria ao governador José Serra, teria feito suas gracinhas na TV Globo. Mas como o líder evangélico é do demo (ex-PFL), nem a sigla partidária aparece quando citam seu nome. As imagens de Kassab e Bispo Gê juntos em campanha sumiram do ar. Talvez nem as centenas de pessoas soterradas nos escombros do prédio inseguro da Igreja Renascer façam a devida ligação bispo-prefeito-demos.
TV Globo esconde a sujeira
A Renascer fez ativa campanha para Gilberto Kassab, apadrinhado do presidenciável José Serra. Engajado na campanha, o diretor-executivo de jornalismo da TV Globo, Ali Kamel, deu até uma trégua na guerra liderada pela emissora contra as igrejas evangélicas. Para livrar a cara do demo, ela deixou de alardear a prisão, nos EUA, dos fundadores da igreja, Sônia e Estevam Hernandes, acusados de desvio ilegal de dinheiro. Também abafou as investigações que apontaram Fernanda Hernandes, filha dos fundadores da Renascer, como “funcionária fantasma do deputado estadual Geraldo Tenuta, conhecido como Bispo Gê”, segundo relato do casal global no Jornal Nacional.Para interferir na batalha eleitoral, a mídia deixou de lado a “imparcialidade” nas apurações das irregularidades da Igreja Renascer – inclusive as que denunciaram o uso indevido de entidades assistenciais para enriquecer a instituição “religiosa”. Faz o mesmo agora, diante dos escombros do prédio e dos nove mortos, omitindo as relações do Bispo Gê com o DEM e o prefeito reeleito da capital paulista. A cada dia que passa, a mídia hegemônica se transforma no principal partido da direita no Brasil. O que ela chama de cobertura jornalística é, de fato, manipulação política.
Aero-Yeda e o silencia midiático
Outro caso emblemático desta distorção é o tratamento dado pela mídia à compra de um jato para governadora do Rio Grande Sul, Yeda Crusius. A tucana, que chafurdou o governo em inúmeros casos de corrupção, anunciou a aquisição do avião executivo orçado em US$ 26 milhões. Diante das críticas, ela rebateu: “Podem chamá-lo de Aero-Yeda, de Queen Air, do que quiserem”, em mais uma prova de inabilidade e arrogância políticas. A mídia, porém, parece que inocentou a governadora. Na Folha de S.Paulo foram publicadas apenas três notinhas, não houve destaque no Jornal Nacional. Bem diferente do escarcéu promovido contra o chamado “Aero-Lula”.
Até o blogueiro Ricardo Noblat estranhou as reações diante desta nova aquisição. “Quatro anos depois de criticar duramente o governo do presidente Lula pela compra do Airbus presidencial, integrantes do comando do PSDB se esquivaram de comentar a decisão da governadora do Rio Grande do Sul, a tucana Yeda Crusius, de também adquirir um jato para vôos internacionais”. O blogueiro, que também é colunista do jornal O Globo, só não criticou o vergonhoso silêncio da mídia hegemônica – por motivos óbvios.
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Os caso Battisti e os boxeadores cubanos
Não sei dizer que Battisti não deva ser julgado, condenado e eventualmente cumprir sua pena. E também não sei dizer se a decisão do governo brasileiro é correta ou errada. Só colocando os fatos no devido lugar. Talvez a Itália devesse reconhecer os erros do seu passado, que a pseudo-democracia daquela época era uma aberração (na verdade ainda é, mas isso não tem importância). Que os anos 70 foi um período violento, em que milhares de italianos participaram de uma guerra sangrenta contra um governo da máfia, inclusive os jovens do PAC (Proletários Armados para o Comunismo), o qual Battisti era ligado (clique aqui para saber mais).
Quem sabe a Itália devesse fazer novamente outra Operação Mãos Limpas, condenando não só Battisti, mas todos aqueles políticos famosos com ligações com máfia naquela época. Ah, toquei num assunto proibido: Berlusconi não quer fazer companhia a Battisti na cadeia. O melhor mesmo é divertir o público, porque é isso que é o caso Battisti. Diverte o público, no Brasil e na Itália. Assim não temos que discutir temas mais espinhosos, aqueles que incomodam os governantes: saúde, segurança pública, educação, transporte urbano, habitação. Coisas bem mais complexas de serem solucionadas.
Mas o que isso tem a ver com os boxeadores cubanos? Absolutamente nada. Mas a mídia tem essa incrível capacidade de distorção dos fatos, e aquela compulsão pela mentira deslavada. Os jornalãos e seus articulistas, toda vez que trata do caso Battisti, volta àquela história da suposta deportação dos boxeadores cubanos pelo governo brasileiro. O argumento é que o governo brasileiro devolveu ao regime de Havana os dois lutadores de boxe cubano que haviam abandonado sua delegação nos jogos panamericanos, negando-lhes o asilo político. É incrível a capacidade de distorção de nossa mídia. Como o governo nega algo que não lhe foi pedido?
O governo diz que os boxeadores não quiseram ficar no país. A Polícia Federal, que também é governo, diz a mesma coisa. O Ministério Público, que não é governo, mas um órgão independente, e que acompanhou o caso desde o início, tem a mesma versão, o seja, os boxeadores não quiseram ficar. A Ordem dos Advogados do Brasil, uma instituição da sociedade civil, que também acompanhou o caso, também alega que os boxeadores não quiseram o asilo político. Setores da imprensa que foram à Cuba ouvir os boxeadores obtiveram a mesma informação: desejaram voltar para os suas famílias, e embora o governo brasileiro tivesse oferecido o asilo, membros da Polícia Federal brasileira disseram para eles que teriam proteção no Brasil, mas eles preferiram voltar para seu país. Mas a imprensa insiste que o governo brasileiro deportou-os. Todo mundo está mentindo (governo, OAB, Ministério Público), inclusive os próprios boxeadores cubanos. A imprensa foi incompetente e não cobriu direito o caso dos boxeadores na época, mas fica especulando com ela mesma sobre o que aconteceu sem qualquer base fática.
Para sustentar o falacioso argumento, os articulistas dizem que a rapidez da volta dos boxeadores para Cuba é prova de que o governo brasileiro deportou os cubanos. Será que o governo brasileiro deveria prendê-los no Brasil por algum tempo para que eles pudessem pensar melhor na opção de aceitar ou não o asilo político apenas para satisfazer o desejo dos articulistas da grande mídia? Nada mais absurdo.
Mais uma vez os fatos desmentem a grande mídia. A imprensa esconde de seu distinto público que outros atletas cubanos ficaram no país, pois o governo concedeu o asilo político que lhe foi solicitado. De forma semelhante, artistas de conjunto musical cubanos obtiveram asilo político, na mesma época, simplesmente porque manifestaram o desejo de ficar. Só não dá para prender no país quem não se manifesta o desejo de ficar. Asilo político é um direito daquele que sofre perseguição política, mas ninguém pode ser obrigado a aceitá-lo. A mídia não entende assim: o regime cubano não é uma democracia, então deveríamos obrigar qualquer cubano a ficar no país, mesmo contra sua vontade. Impressionante a criatividade dessa turma golpista.
terça-feira, janeiro 27, 2009
Economia da má fé
Paul Krugman
Do New York Times
Alguns destes argumentos são zombarias óbvias. John Boehner, o líder das minorias da Câmara dos Representantes, já fez parte das manchetes com esta tirada: Olhando para um plano de US$800 bilhões para reconstruir infra-estrutura, manter serviços essenciais e outros, ele ridicularizou uma cláusula que aumentaria os serviços de planejamento familiar da Medicaid - e chamou-a de um plano para "gastar centenas de milhões de dólares em anticoncepcionais".
Em seguida, escreva para qualquer um que afirme que é sempre melhor reduzir impostos do que aumentar os gastos públicos, porque os contribuintes, não os burocratas, são os melhores juízes de como gastar o seu dinheiro.
sábado, janeiro 24, 2009
Assim é a política
"A política é a arte de conciliar interesses próprios, fingindo conciliar os dos outros".
Menotti Del Picchia (1892-1988)
A frase acima diz tudo. Alckmin não ganharia nada com a derrota de Serra para Aécio dentro do PSDB. Isso porque Serra partiria para a reeleição no governo estadual, mantendo-se o controle sobre o PSDB paulista, enquanto Alckmin teria que se contentar com uma cadeira parlamentar, pois nem mesmo um mandato de senador seria oferecido a ele. Dessa forma, a aliança com o desafeto Serra representa não só interesses do pré-candidato José Serra, como também os interesses mais imediatos de Geraldo Alckmin.
Aécio não tinha muito para oferecer a Alckmin, a não ser integrá-lo futuramente à sua equipe de governo, caso vencesse a batalha eleitoral, primeiro contra Serra dentro do partido, e depois contra o candidato do presidente Lula. Todavia, a posição de Alckmin no PSDB paulista ficaria complicada caso Serra vencesse Aécio nessas condições. No entanto, Serra pode oferecer a Alckmin sua reabilitação política, o que inclui está entre os cotados para o Palácio dos Bandeirantes. Alckmin aliou-se a Serra porque isso representa o melhor para seus interesses próprios. Assim é a política. Uma sábia frase de Del Picchia.
Digite aqui o resto do postsexta-feira, janeiro 23, 2009
Ministério do Desenvolvimento e Combate à Fome completa cinco anos
Patrus Ananias, ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
Nossa primeira grande tarefa foi a construção do Programa Bolsa Família, então na sua primeira infância. Foram anos de trabalho árduo, mas hoje o programa já está presente em todos os 5.564 municípios brasileiros, combatendo a fome e a exclusão, ampliando a renda dos mais pobres, reduzindo as desigualdades sociais, dinamizando as economias locais e, o que é mais importante, garantindo o direito à vida e promovendo a cidadania de cerca de 11 milhões de famílias pobres. Ao mesmo tempo em que construímos o Bolsa Família, estruturamos em torno dele uma grande rede de proteção e promoção social. As importantes conquistas do programa se devem a sua articulação com essa rede de políticas públicas.
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quinta-feira, janeiro 22, 2009
Maioria dos brasilienses querem eleger os adminstradores regionais
Ainda segundo o estudo, 11,6% afirmaram que o sistema atual, no qual o administrador é escolhido pelo governador, deve ser preservado. Segundo o levantamento, foram ouvidas 580 pessoas de todas as regiões administrativas entre os dias 12 e 14 de dezembro.
O deputado federal Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) comentou o resultado da pesquisa e concorda com a maioria dos entrevistados. Ele afirma que vai lutar para realizar a vontade da sociedade. "Com a minha experiência política, havia percebido esse anseio da população. Tanto que apresentei uma proposta de emenda à Constituição solicitando a implementação de eleições", destacou.
Segundo o deputado, a iniciativa vai aumentar o poder participativo da sociedade brasiliense. "Eu considero absolutamente procedente fazer com que a população participe do processo decisório", disse.
Rollemberg detalha o que pretende fazer para que a regra passe a valer o mais rápido possível. Ele reconhece a complexidade do tema, mas vai promover debates com a sociedade civil, com lideranças comunitárias e com a população, aperfeiçoando assim o projeto.
O milionário comercial da SABESP
A campanha de 2010 já começou, e a conta é paga pelo usuário da Sabesp, que presta um serviço de qualidade duvidosa. A turma de Serra joga mesmo pesado. É dinheiro de empresa pública para o ralo para promover sua candidatura presidencial. E tudo com a conivência da grande mídia. Aliás, a grande mídia está satisfeitíssima com mais uma polpuda verba publicitária. Fica a pergunta: Cadê o Ministério Público? Onde foi parar a indignação de certos meios? Será que a conta será paga com o SerraCard?
Quércia, o comprador de ilusões
Em 2010, o roteiro do filme tem tudo para se repetir. Serra deverá conduzir não só sua candidatura presidencial, mas também a sucessão do Palácio dos Bandeirantes. O PSDB terá candidato do partido para o governo estadual. A cadeira de vice-governador ficará com o DEM, provavelmente Afif Domingos. Quércia será candidato a senador no arco da candidatura de Serra presidente. O outro candidato da coligação deverá vir do PSDB. Serra e seus aliados dificilmente conseguirão eleger os dois senadores em disputa. Assim como em 2002, um senador deverá vir da aliança de Serra, e a outra vaga deverá mesmo ficar com o lulismo, provavelmente Mercadante do PT. Novamente cria-se o cenário para a candidatura de Quércia ser rifada, mas da próxima vez por José Serra. No fim das contas, o PSDB irá querer garantir uma cadeira a mais para o Senado. Ou seja, Quércia será abandonado mais uma vez. Até lá, Quércia continua comprando ilusões.
Um bode expiatório conveniente à Itália
Do Valor Econômico, de 22/01/2009
A história que resultou na condenação de Cesare Battisti à prisão perpétua pela justiça italiana em 1993 poderia ser o roteiro de um de seus romances policiais, se não tivesse transformado o próprio escritor num cavaleiro errante. Pelos fatos que levaram à sua condenação, o ministro da Justiça, Tarso Genro, certamente não cometeu nenhuma heresia ao conceder a Battisti o status de refugiado político. "Um dos fundamentos muito próximos do diferimento do refúgio político é de que se o condenado teve direito à defesa. O Estado italiano alega que sim. Na avaliação que nós fizemos do processo, ele não teve direito à ampla defesa", afirmou o ministro, justificando a sua decisão.
A autobiografia de Battisti, "Minha fuga sem fim", traz fatos em favor da convicção do ministro. Se o escritor for extraditado para a Itália, cumprirá prisão perpétua sem ter passado por um tribunal e pagará por quatro assassinatos que o bom senso não permite que sejam relacionados a ele. Nunca esteve num tribunal para defender-se dessas acusações - e, de volta à Itália, não será ouvido por nenhum juiz. A condenação foi feita com base na acusação de um ex-militante da mesma organização, um "arrependido" que negociou anos a menos na sua pena (muitos anos, aliás) em troca de incriminar outras pessoas. Não foi apresentada nenhuma prova, testemunha ou um único indício. Dois dos homicídios foram cometidos no mesmo 16 de fevereiro de 1979, a 500 km de distância um do outro. O outro foi o de um comandante de uma prisão, em junho de 1978. E, por fim, teria assassinado o policial Andrea Campagna, acusado de torturas. Nesse último caso, a testemunha ocular descreveu o agressor como um barbudo louro, medindo 1,90 m. Battisti é moreno e tem 1,70 m. Foram encontradas armas no apartamento onde o escritor vivia com outros italianos clandestinos, mas a própria polícia constatou que elas nunca haviam sido disparadas.
Segundo o livro de Battisti, a organização da qual fazia parte, o grupo dos PAC (Proletários Armados para o Comunismo), organizara-se no período de crítica ao stalinismo, era totalmente descentralizado e nada impedia que um punhado deles, em determinada região do país, fizesse ações e se assumisse como parte do grupo. Seria difícil, assim, que todos os que militavam nos grupos dispersos pela Itália se conhecessem.
Após maio de 1978, quando as Brigadas Vermelhas executaram Aldo Moro - relata - as organizações de esquerda (em geral) se apavoraram e mergulharam na discussão sobre a continuidade da luta armada. Os PAC refluíram para um princípio que já era um pé fora da luta armada (até então, diz Battisti, pelo menos no grupo que militava, as ações se resumiram a "apropriações" para manter os clandestinos; somente os quatro assassinatos que lhe foram imputados pela Justiça italiana foram atribuídos aos PAC). Mas, excessivamente descentralizado, um dos núcleos do grupo reivindicou o assassinato do comandante da prisão, no verão de 1978. Foi quando Battisti rompeu com o grupo. "Juntamente com parte dos militantes de primeira hora, naquele momento decidi virar a página e renunciar definitivamente à luta armada", diz, no livro. Isso quer dizer que, quando ocorreram os outros três assassinatos dos quais é acusado, ele sequer era militante do PAC.
O escritor foi preso na violenta repressão que sucedeu a morte do democrata-cristão Aldo Moro. No processo criminal, ninguém atribuiu a ele qualquer relação com a morte do comandante da prisão. Foi testemunha, todavia, de métodos pouco convencionais de interrogatório. Foi dessa época também a lei de delação premiada, que fez proliferar "arrependidos". Battisti conseguiu fugir com a ajuda daquele que, "arrependido" no futuro, jogaria sobre ele todas as culpas. Era Pietro Mutti.
Fora da prisão, Battisti recusou a proposta de aliança feita por Mutti, que comandava um tanto de jovens num grupo chamado Colp, que não se sabe o que significa. Mutti foi detido em 1982 - Battisti já estava longe, em Paris, depois de uma passagem pelo México. Nos "tribunais de exceção" italianos criados à época por leis especiais, Mutti, ameaçado de prisão perpétua, foi farto em acusar ex-companheiros de crimes. Especialmente Battisti. O escritor beneficiado pelo ministro Tarso Genro também foi acusado por outros integrantes do PAC, de tal forma que, de todos os envolvidos com o grupo, apenas ele foi condenado à prisão perpétua. Foram tantas as contradições resultantes desse jogo de se safar jogando a culpa no outro que o próprio tribunal de Milão, em decreto de 31 de março de 1993, reconheceu: "Esse arrependido (Mutti) é afeito a "jogos de prestidigitação" entre seus diferentes cúmplices, como quando introduz Battisti no assalto de Viale Fulvio Testi a fim de salvar Falcone, ou Battisti e Sebastiano Masala no lugar de Bitti e Marco Masala no assalto ao arsenal Tuttosport, ou ainda Lavazza ou Bergamin no lugar de Marco Masala nos dois assaltos veroneses" - segundo trecho citado pela escritora Fred Vargas no posfácio do livro.
Diante de tantas contradições e de tantos fatos mal explicados, inclusive um asilo revogado na França (depois de um atuante trabalho de lobby italiano), fica a dúvida de por que interessa tanto ao governo italiano coroar Cesare Battisti como o bode expiatório de um período negro na Itália, onde não apenas a luta armada enevoou o país, mas as instituições se ajustaram a uma guerra contra o terror usando métodos pouco afeitos à ordem democrática. Talvez reconhecer erros no processo que levou à condenação de Battisti tenha o poder de expor a falta de legitimidade de ações policiais e judiciais desse período difícil da Itália.
Maria Inês Nassif é editora de Opinião. Escreve às quintas-feiras
E-mail maria.inesnassif@valor.com.br
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quarta-feira, janeiro 21, 2009
A jogada de mestre de José Serra
Até pouco tempo Serra colecionava erros na articulação política. Após perder a queda-de-braço com Alckmin em 2006, Serra parecia disposto a esmagar o grupo político do oponente no PSDB paulista. A imagem de desagregador só reforçava. A aposta de risco na campanha eleitoral do município de São Paulo só confirmava o DNA Serra. O cálculo político de Serra provou-se correto. Antes disso, Serra consolidou o apoio à candidatura presidencial dentro dos partidos aliados tradicionais (DEM e PPS). Tal movimento deslocou seu concorrente, o governador Aécio Neves, para buscar apoio nos partidos que orbitam em torno do lulismo. Ou seja, enquanto Serra aumentava o controle sobre seu futuro político, Aécio flertava no campo adversário, uma missão bem mais difícil para se obter o sucesso.
O primeiro grande acerto de Serra foi trazer o PMDB de Orestes Quércia para o seu consórcio de poder. De fato, os preciosos minutos do PMDB garantiram a vitória eleitoral de Gilberto Kassab (DEM), um fiel aliado para sua candidatura. Desta vez, Serra surpreende novamente, trazendo para sua órbita um possível dissidente dentro do PSDB paulista, o ex-governador Geraldo Alckmin. Dessa forma, Serra unifica o partido dentro de São Paulo, fechando as portas para uma dissidência pró-Aécio em São Paulo.
Além de unificar o partido no Estado, trazer Alckmin para seu governo melhora a imagem de José Serra. Da mesma forma que reconciliou com um antigo adversário, Orestes Quércia do PMDB, Serra agora reconcilia com um adversário dentro do próprio partido. O desagregador torna-se agora o político da reconciliação. Por fim, Serra ganha mais uma opção para a sucessão do governo paulista. Ter uma candidatura forte ao governo estadual, o que o PSDB ainda não tinha, torna-se mais fácil seu caminho para obtenção da cadeira presidencial. Assim, caso a candidatura de Aloísio Nunes Ferreira não decole, Alckmin é uma opção com densidade eleitoral no Estado.
O ex-governador Geraldo Alckmin, com a secretaria do governo paulista, obtém visibilidade para manter-se no páreo. Com a derrota presidencial e a eleição municipal, o grupo político de Alckmin ficou enfraquecido. Sua entrada no governo Serra o coloca novamente entre os postulantes para o governo paulista em 2010. Mesmo que a indicação do partido recaia para alguém mais próximo a Serra, Alckmin poderá reunir-se condições para lançar-se a uma cadeira no Senado. Ou seja, Serra encurtou a reabilitação de Alckmin, e ganhou mais um aliado. É um futuro bem mais promissor que entrar na aventura política de Aecinho.
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