sábado, outubro 25, 2008

Mensagem à população de Belo Horizonte

Patrus Ananias, publicado no site do PT em 24/10/2008
Pessoas amigas têm me procurado direta ou indiretamente através da rede da Internet perguntando qual candidato apoio na disputa pela Prefeitura de Belo Horizonte.Como declarei em várias oportunidades não apóio nenhum candidato nestas eleições.

Durante o processo eleitoral no primeiro turno, tornei públicas as razões da minha posição. Não obstante meu desejo e empenho em participar e contribuir para consolidar e ampliar as grandes conquistas que a população belorizontina, especialmente os pobres e trabalhadores, teve nos últimos 16 anos, fui literalmente alijado do processo juntamente com outros companheiros (as) do PT, das esquerdas, das forças democrático-populares, dos movimentos sociais, da base de apoio do governo Lula. Poderia ter sido perfeitamente possível, se houvesse vontade política, construir uma candidatura que unificasse todas essas forças, com amplas possibilidades de vitória. Prevaleceu, infelizmente, uma concepção centralizadora, autoritária de alianças:sem qualquer fundamentação programática e de compromissos sociais. Dispensou-se a militância e apostou-se numa campanha baseada inteiramente no marketing. O Partido dos Trabalhadores desapareceu no processo eleitoral de Belo Horizonte.
Muitos conhecem minha história com Belo Horizonte, cidade onde fui vereador e prefeito e que me confiou mais de 300 mil dos 520.045 votos que tive quando fui candidato a deputado federal em 2002. Há quase cinco anos à frente do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, meu compromisso com os mais de 66 milhões de pessoas pobres no Brasil não interrompe a minha relação com Belo Horizonte e Minas Gerais, apenas a repõe em outra dimensão.
Atendendo solicitação da direção nacional do PT e de integrantes do diretório estadual, dediquei-me às campanhas do PT, onde o partido pôde hastear as suas bandeiras, em várias cidades do Brasil, em especial às de Minas Gerais. Por sete finais de semana seguidos e algumas noites pude visitar 47 cidades mineiras e outras 15 em diferentes Estados do Brasil. É de alegrar o coração ver como o nosso povo, sobretudo os mais pobres, possui uma enorme identidade com as nossas causas, as causas do PT e das forças democrático-populares. É um contato revigorante que nos restaura o sentido primeiro de nossa militância: construir a paz no desenvolvimento integral das pessoas e das potencialidades da nossa gente. Ainda esta semana estarei em Juiz de Fora, Petrópolis e Contagem, levando meu apoio às companheiras e companheiros que disputam o segundo turno.
Votarei no próximo domingo, considerando atentamente e até o último momento as propostas e o comportamento de cada candidato. Não tornarei público o meu voto porque isso só faz sentido quando é pública a nossa adesão a uma candidatura. E a adesão plena só se dá no compartilhamento das idéias, dos sonhos e dos projetos em campanhas que nos mobilizam no mais fundo do coração e dos sentimentos.Infelizmente não é o caso de Belo Horizonte.
Belo Horizonte, 21 de outubro de 2008
Afetuosamente,
Patrus Ananias
Comentário do blogueiro:
Patrus Ananias é um dos raros políticos que a gente vota com prazer, aquele orgulho da simples manifestação de voto. Se estivesse em Belo Horizonte para votar amanhã, faria isso com tristeza. Deveria fazer um esforço enorme para decidir em quem votar (frise-se, não é tarefa fácil dada à conjuntura eleitoral da cidade). Em geral, não considero a opção de anular o voto, mesmo quando as candidaturas colocadas não sejam do meu agrado.

A tal convergência do governador Aécio Neves representa aquele antigo sonho da direita de eliminar a política. Não é uma convergência em torno de idéias, projetos, mas de interesses de agrupamentos políticos. Alguém (ou milhões de pessoas) não será convidado para a festa, aquele momento de repartir o bolo. Nesse sentido, a grande maioria ficará de fora, simplesmente alijada do processo político. De certa maneira, foi o que aconteceu em Belo Horizonte. As forças políticas democráticas populares que elegeram Patrus foram convidadas para ficar de fora do novo jogo de interesses que permeia a política mineira.

É isso que dá quando a política perde o sentido e as pessoas passam a simplesmente valorizar a idéia vaga de “gestão”. Esta devia ser um instrumento para operacionalizar com eficiência as escolhas políticas, mas jamais um fim em mesmo. Perde-se o referencial, e as escolhas políticas passam a importar cada vez menos. Não importa se investe em transporte público ou viadutos. Mas é claro que importa, ou será que não podemos mais dizer aos burocratas de plantão qual a cidade que queremos.

sexta-feira, outubro 24, 2008

Votar ou anular o voto em Beagá?

É triste o final da encenação eleitoral que está acontecendo em Belo Horizonte. O "projeto aliança por BH" - ou melhor, aliança para os projetos políticos de Pimentel e Aécio - foi reprovado pela população. O problema é que as opções que restaram nesse segundo turno são para dar dor no estômago. De um lado um aventureiro cheio de chavões, mas sem nenhum conteúdo, de outro lado, um candidato-laranja que não conhece a cidade, e que representa a despartidarização da política - isto é, a política só serve para projetos pessoais (nesse caso, de Aécio e Pimentel).
O PT sai perdedor da lambança costurada pelo Pimentel, e isso independe do resultado de domingo. O partido já perdeu desde o início quando o prefeito abandonou os aliados (como o PC do B) e deixou de fora justamente os melhores do partido - Patrus, Dulci, só para citar alguns. É assim mesmo: impossível sair algo bom vindo de Virgílio Guimarães. Nem aqui vou relembrar suas atitudes desastrosas para o PT.

Como Belo Horizonte é uma cidade que está no meu coração, como o Atlético Mineiro, sinto-me obrigado a expor minha contrariedade com que houve nessa eleição municipal. Bem que não estarei mais na cidade para ter que decidir entre votar e anular meu voto. Mas meus amigos do Blog Pedreira na Vidraça fizeram um quadro com os motivos para anular o voto. Mesmo que sua decisão seja escolher um dos candidatos no domingo, o Quadro Comparativo (clique no quadro para ampliar a visualização) ao lado fala por si só. Como se vê, a que ponto chegou a eleição em Beagá.

sábado, outubro 18, 2008

O vale-tudo da corrida eleitoral

É hipocrisia imaginar que na corrida político-eleitoral o vale-tudo não é a regra, mas a exceção. A campanha da Marta Suplicy em São Paulo errou na estratégia eleitoral ao abordar a vida privada do candidato Kassab, mas não quer dizer que a eleição é uma peleja entre mocinhos. É um erro permitir que a campanha eleitoral invada indevidamente a vida privada do candidato. Esse é apenas um princípio. Todavia, o maior erro em termos de estratégia eleitoral é que a campanha da Marta devia prever a reação negativa da mídia, apesar de estar aí uma grande hipocrisia.
Os petistas reclamam que a mídia sempre escancara a vida privada deles, mas quando acontece com seus adversários, essa mesma mídia insurge indignada. É público e notório que a vida privada de Lula e Marta Suplicy (só para citar alguns) foi e continua sendo invadida descaradamente pela grande mídia que a todo custo busca proteger a vida privada do candidato Kassab. Marta Suplicy foi e continua sendo vítima de preconceitos resultados da invasão de sua vida privada (algumas verdadeiras calúnias). Esse é mais um caso de indignação seletiva.
Estrategicamente, a candidata Marta Suplicy deveria ter reconhecido o erro no início, pedido desculpas, sem abandonar a estratégia de levar ao eleitor mais informação negativa sobre seu adversário. Seria uma escolha tática, e não tem nada a ver com a noção de certo ou errado. Aliás, em eleição a idéia de certo ou errado é bobagem. Tanto é verdade que contra o PT vale-tudo, e ninguém fica espantado.
Tudo indica que Marta Suplicy só viu o comercial depois de sua divulgação, mais tal fato não é atenuante para ela. A responsabilidade da campanha é sempre do candidato (a). Assim, ao perceber a repercussão negativa, a melhor estratégia é sempre reconhecer o erro, pedir desculpas e manter a estratégia de outra forma (desde que ainda se acredite que a estratégia possa surtir resultado eleitoral).
Uma maneira inteligente de abordar a suposta homossexualidade do candidato Kassab é questionar a existência da Secretaria de Desburocratização. Para que foi criada? Teria sido para abrigar na administração de Kassab o deputado Rodrigo Garcia? Quais os critérios que levaram sua escolha? No final, alguém acabaria levantando a questão do homossexualismo de Kassab, sem precisar que a campanha abordasse sua vida pessoal.

Também é importante questionar o estrondoso crescimento do patrimônio de Kassab desde que iniciou na política no governo de Celso Pitta. O comercial de Marta Suplicy traz essas questões, mas a mídia ignora, centrando somente na sua suposta indignação. Nesse episódio, a mídia sem pudor propaga que a candidata tem preconceito contra homossexuais. É o vale-tudo da mídia contra Marta Suplicy. Contra Marta Suplicy o vale-tudo é permitido.

Os panfletos contra Gabeira e a mordaça da Justiça Eleitoral

Antes de iniciar este post quero dizer que torço pela vitória do Gabeira no Rio. Apesar de estar numa aliança pouco defensável, não dá para engolir o candidato metamorfose-ambulante do Eduardo Paes. Feito essas considerações, agora vamos aos panfletos.
A mídia tratou inicialmente os panfletos como avulsos como se fossem apócrifos. As fotos dos panfletos são claras: o PT, PSB, PDT e PC do B assinaram os panfletos, com CNPJ e tudo (como manda o figurino). Ou seja, não esconderam que os panfletos eram ou tinham o apoio desses partidos. Nada foi feito às escuras. No entanto, isso foi ignorado inicialmente, numa tentativa de associar os panfletos ao PMDB do candidato Paes, principalmente porque uma Kombi que distribuía os panfletos trabalhou na campanha da vereadora eleita Clarissa Garotinho (PMDB).

Além disso, os panfletos também foram tratados de forma pejorativa, como se fosse um ataque desleal ao candidato Gabeira. Os panfletos têm os dizeres “Diga não à continuidade de César Maia, pense nisto!”. Não há na frase nenhum ataque desleal ou qualquer calúnia ou difamação contra Gabeira, como próprio assinalou a Justiça Eleitoral. Como Gabeira tem apoio do prefeito César Maia, e o PV, PSDB e PPS participa da sua adminstração a muitos anos, é uma interpretação política plausível.

Está claro também que não é Gabeira que apóia César Maia, mas o contrário. Da mesma, o presidente Lula recebe apoios de políticos de diversos partidos e trajetórias, mas nada autoriza a concluir que o presidente apóia todos que os apóiam. Todavia, a candidatura de Gabeira permite essa interpretação de continuidade da gestão de César Maia. Obviamente, Gabeira e César Maia são políticos bem diferentes, o que nos leva a acreditar que os governos serão bem distintos. Porém, a candidatura Gabeira não é ruptura do governo César Maia. Também não é a candidatura de Eduardo Paes, criado nas hostes do prefeito carioca e que até a pouco tempo engrossava as fileiras do PSDB, partido que participa ativamente da gestão César Maia.
Os partidos PV, PSDB e PPS participam do governo de César Maia. Aliás, é o PSDB quem comanda a Secretaria de Saúde, a área de pior avaliação do governo César Maia. Então o panfleto não falou nenhuma mentira, pois tanto deverá haver mudanças quanto continuidade. Certamente não é o caso de ruptura. Se a continuidade persistir na saúde (o que não acredito) num futuro governo Gabeira, a população não tem muito a comemorar.
Segundo o dirigente petista, a apreensão é arbitrária: “O PT tem candidato no Rio no segundo turno. Mas esse não é um panfleto pró-Paes. É meu direito de liberdade. Estamos na ditadura militar? Não estamos fazendo nada às escuras. A apreensão é arbitrária, para beneficiar o Gabeira. Agora vão amordaçar os partidos?”. O TRE, no entanto, entende que o panfleto representa propaganda negativa, apesar de não ser difamatório ou calunioso, e visa influir a opinião do eleitor. Para o TRE, a Resolução 22.718 da Propaganda Eleitoral, é obrigatório informar o nome do candidato, do vice e da coligação beneficiada. Que coisa estranha essa do TRE querer legislar de como os partidos podem emitir suas opiniões! Em que lugar está a mídia que se professa defensora da liberdade de opinião? Ah, o partido responsável pela confecção do panfleto é o PT, e para este não tem esse negócio de liberdade. Tome mordaça no PT. É assim mesmo: alguns grupos (políticos ou não) tem mais liberdade de expressar suas opiniões. Não basta o desigual acesso aos meios de comunicação de massa.

Este é mais um equívoco da Justiça Eleitoral. É bastante similar à mordaça que a justiça eleitoral impôs na Internet. Não vejo porque a Justiça Eleitoral deva proibir partidos de expressarem suas opiniões, mesmo que isso beneficie determinada candidatura. É um tipo de mordaça que tenta limitar as formas de propaganda política. Agindo assim, a Justiça Eleitoral deveria fechar ou impedir cobertura jornalística das eleições de todos os jornais, revistas, televisão, etc., privando os eleitores de informação, pois não há dúvida de que as matérias supostamente jornalísticas dos grandes veículos de comunicação estão sempre a serviço de uma ou outra candidatura. Ou seja, tem sempre alguém sendo beneficiado. Ou será que alguém duvida de que a grande imprensa apóia Gabeira no Rio, Kassab em São Paulo e Márcio Lacerda em Belo Horizonte. Dessa praga a Justiça Eleitoral não tem como se livrar.