A oposição baseada no discurso de quanto pior melhor tem tudo para não emplacar, pois a população é esclarecida o suficiente para entender que a crise não é responsabilidade do governo Lula. As medidas que o governo vem tomando podem não debelar os efeitos da crise sobre o Brasil, mas é do reconhecimento da maioria que elas estão na direção correta. Ou seja, o governo está cumprindo seu papel de governar, fazendo aquilo que está ao seu alcance. A economia provavelmente não conseguirá sustentar o ritmo atual de crescimento, mas nada catastrófico. Na crise atual, o país tem tudo para sair dela mais fortalecido no cenário econômico mundial. Não adianta pensar que a população colocará a culpa no governo Lula, pois sabe que não é o culpado. Para vencer as eleições de 2010, não basta para a oposição a torcida do quanto pior melhor. O eleitor vota em liderança não em algozes. Se a oposição não for capaz de convencer o eleitor que pode conduzir o país melhor que um candidato de continuidade (governista) pode acabar morrendo na praia. Um escorregão da oposição pode consagrar o triunfo lulista.
Os operadores políticos dos principais postulantes oposicionistas (Serra e Aécio) já entenderam o sinal, e dificilmente embarcarão no discurso tosco do aprofundamento da crise buscando colá-la no governo Lula. A tendência é pouparem o governo Lula, que seguirá popular, apostando num discurso em direção ao futuro, pois o passado recente não é bom para a oposição política. O discurso pós-Lula de Aécio e a incessante tentativa de Serra de mostrar-se próximo a Lula em temas importantes é prova de que os únicos políticos da oposição com chances de chegar ao Planalto preferem aproximação com o eleitorado lulista que bater de frente com um presidente popular. Não é por acaso que são líderes da oposição. Afinal, uma dose de inteligência política nunca é demais.
Mas a batalha travada nos bastidores entre os dois postulantes do PSDB é emocionante. Aécio aposta na sua habilidade de seduzir políticos das mais diferentes matizes, o que inclui um bom trânsito com partidos que hoje estão abrigados no consórcio governista. Todavia, Serra conquistou de vez os aliados tradicionais do seu partido, a saber, DEM e PPS. Assim como Aécio transita bem dentro do PMDB, e também faz assédio ao PV. Aécio, por outro lado, fala em ampliação da base de apoio ao governo, incluindo partidos que sempre caminharam no campo governista como PSB e PDT, e uma possível aproximação com o PT num futuro governo. É a famosa convergência política.
A idéia de convergência é antiga entre os mineiros, que preferem a composição à disputa política. De fato, não há nada de novo não tão propagada tese de convergência de Aécio, pois o sonho mineiro sempre embutiu a eliminação da competição política (nem precisa retomar a eleição de Belo Horizonte).Uma política sem ideais ou ideologias. O choque de gestão tucano não deixa de ser a perseguição desse sonho antigo, em que as elites tomam as decisões com critérios supostamente técnicos. Aquilo que deveria representar um meio (critérios técnicos) passa ser um fim em si mesmo. Não importa as escolhas, as opções da política, tudo fica escamoteado no discurso tecnicista. O problema da política se resume à escolha dos meios, de uma solução técnica, sem qualquer relação com seus fins.
A tese de Aécio pode representar uma grande inovação política, mas pode esconder a fraqueza de sua candidatura dentro do seu próprio partido. O governador mineiro ao ver que seu adversário no partido ocupou os espaços nos tradicionais aliados busca trazer novos aliados para contrabalançar o jogo não muito favorável. O discurso é que os tradicionais aliados caminharão juntos com qualquer candidato que o partido escolher. É uma hipótese tão verdadeira que soa como falsidade. A verdade é que Serra tem o total controle de seus aliados dentro e fora do partido, já Aécio não controla o seu destino (nem dentro e muito menos fora do partido). A dificuldade de Aécio com o PMDB mineiro, apesar dos insistentes pronunciamentos em contrário, é mostra de quão complexa é sua empreitada. A boa relação de Aécio com o PSB, por exemplo, não garante apoio deste partido a uma eventual candidatura. Afinal, na hora da onça beber água o que vale são interesses regionais (toda política é local), ou seja, manter nas mãos do PSB os governos de Pernambuco e Ceará (com ajuda preciosa do PT). E não é só.
Serra procura dinamitar a candidatura Aécio com três pilares: (i) é o candidato mais bem colocado nas pesquisas; (ii) a chapa puro-sangue do PSDB, isto é, Serra presidente e Aécio vice; e (ii) o fim da reeleição. E ainda tem gente que diz que política tem fila, e Aécio está numa posição atrás na fila presidencial. O PSDB perdeu as eleições de 2006 e ficou aquela impressão de que não escolheu o melhor candidato. Aécio diz que não basta ter melhor colocação nas pesquisas, porque elas refletem apenas um retrato momentâneo, mas também a capacidade de aglutinar apoios políticos. O candidato Aécio pode ter razão, mas terá que comprovar que tem melhores condições de reunir uma candidatura mais ampla. Até o momento esse candidato é Serra, pois ele unificou a oposição política em torno de sua candidatura, enquanto Aécio tem apenas uma boa tese política, a chamada convergência.
A chapa puro-sangue e o fim da reeleição trazem a idéia de fila na política, com Serra numa posição na frente nessa fila presidencial. Na primeira, os aliados de Serra, principalmente o DEM, abrem mão da vice-presidência para Aécio, com o intuito de unificar as forças políticas e obterem mais condições de trocar de lado com o consórcio governista, ou seja, retomar o poder. É aquilo que Aécio chama de desprendimento, mas dessa vez contra sua candidatura. No caso da reeleição, Serra abre mão de novo mandato, sob a promessa de que Aécio será o candidato em seguida, algo que só mais adiante poderá ter-se certeza de sua eventual candidatura. É o PSDB novamente trazendo uma candidatura para 10 anos de poder. É um filme antigo que nem sempre termina bem (lembrar-se da previsão de Sérgio Motta de 20 anos de poder para o partido). O risco político de Aécio é alto (só é menor que embarcar no PMDB).
Aécio tem total noção do tamanho de sua empreitada. Ela é complexa, difícil, mas não quer dizer impossível. Não se pode subestimar o talento político do governador mineiro. Este aposta nas prévias, ou seja, tenta fazer com que a escolha do candidato seja de forma mais ampla e democrática, por meio do mecanismo de prévias partidárias. Não aceita que o candidato seja ungido apenas pelos caciques partidários. É até cômico falar de ampliação da democracia partidária quando se trata de Aécio. Ele fez parte do trio (Aécio, FHC e Tasso Jeressaiti) que reuniu num restaurante em São Paulo para escolher o candidato do partido para 2006. Nas eleições de Minas, junto com o prefeito petista Fernando Pimentel, escolheu o próximo prefeito de Belo Horizonte num verdadeiro dedaço. Em suma, Aécio representa o caciquismo partidário, as decisões tomadas de cima para baixo. É uma forma legítima de fazer política, embora pouca democrática.
Como os ventos da política mudam, Aécio precisa das prévias partidárias para forçar a disputa interna dentro do PSDB, o que aumenta suas chances, bem como fornece uma justificativa política aos mineiros para o caso de não sair candidato. Ou seja, ele pode perder a indicação do partido, mas não aceita ser atropelado por uma decisão dos caciques partidários. Pimenta nos olhos dos outros é refresco. Obviamente, Aécio não quer provar do próprio veneno.
Os operadores políticos dos principais postulantes oposicionistas (Serra e Aécio) já entenderam o sinal, e dificilmente embarcarão no discurso tosco do aprofundamento da crise buscando colá-la no governo Lula. A tendência é pouparem o governo Lula, que seguirá popular, apostando num discurso em direção ao futuro, pois o passado recente não é bom para a oposição política. O discurso pós-Lula de Aécio e a incessante tentativa de Serra de mostrar-se próximo a Lula em temas importantes é prova de que os únicos políticos da oposição com chances de chegar ao Planalto preferem aproximação com o eleitorado lulista que bater de frente com um presidente popular. Não é por acaso que são líderes da oposição. Afinal, uma dose de inteligência política nunca é demais.
Mas a batalha travada nos bastidores entre os dois postulantes do PSDB é emocionante. Aécio aposta na sua habilidade de seduzir políticos das mais diferentes matizes, o que inclui um bom trânsito com partidos que hoje estão abrigados no consórcio governista. Todavia, Serra conquistou de vez os aliados tradicionais do seu partido, a saber, DEM e PPS. Assim como Aécio transita bem dentro do PMDB, e também faz assédio ao PV. Aécio, por outro lado, fala em ampliação da base de apoio ao governo, incluindo partidos que sempre caminharam no campo governista como PSB e PDT, e uma possível aproximação com o PT num futuro governo. É a famosa convergência política.
A idéia de convergência é antiga entre os mineiros, que preferem a composição à disputa política. De fato, não há nada de novo não tão propagada tese de convergência de Aécio, pois o sonho mineiro sempre embutiu a eliminação da competição política (nem precisa retomar a eleição de Belo Horizonte).Uma política sem ideais ou ideologias. O choque de gestão tucano não deixa de ser a perseguição desse sonho antigo, em que as elites tomam as decisões com critérios supostamente técnicos. Aquilo que deveria representar um meio (critérios técnicos) passa ser um fim em si mesmo. Não importa as escolhas, as opções da política, tudo fica escamoteado no discurso tecnicista. O problema da política se resume à escolha dos meios, de uma solução técnica, sem qualquer relação com seus fins.
A tese de Aécio pode representar uma grande inovação política, mas pode esconder a fraqueza de sua candidatura dentro do seu próprio partido. O governador mineiro ao ver que seu adversário no partido ocupou os espaços nos tradicionais aliados busca trazer novos aliados para contrabalançar o jogo não muito favorável. O discurso é que os tradicionais aliados caminharão juntos com qualquer candidato que o partido escolher. É uma hipótese tão verdadeira que soa como falsidade. A verdade é que Serra tem o total controle de seus aliados dentro e fora do partido, já Aécio não controla o seu destino (nem dentro e muito menos fora do partido). A dificuldade de Aécio com o PMDB mineiro, apesar dos insistentes pronunciamentos em contrário, é mostra de quão complexa é sua empreitada. A boa relação de Aécio com o PSB, por exemplo, não garante apoio deste partido a uma eventual candidatura. Afinal, na hora da onça beber água o que vale são interesses regionais (toda política é local), ou seja, manter nas mãos do PSB os governos de Pernambuco e Ceará (com ajuda preciosa do PT). E não é só.
Serra procura dinamitar a candidatura Aécio com três pilares: (i) é o candidato mais bem colocado nas pesquisas; (ii) a chapa puro-sangue do PSDB, isto é, Serra presidente e Aécio vice; e (ii) o fim da reeleição. E ainda tem gente que diz que política tem fila, e Aécio está numa posição atrás na fila presidencial. O PSDB perdeu as eleições de 2006 e ficou aquela impressão de que não escolheu o melhor candidato. Aécio diz que não basta ter melhor colocação nas pesquisas, porque elas refletem apenas um retrato momentâneo, mas também a capacidade de aglutinar apoios políticos. O candidato Aécio pode ter razão, mas terá que comprovar que tem melhores condições de reunir uma candidatura mais ampla. Até o momento esse candidato é Serra, pois ele unificou a oposição política em torno de sua candidatura, enquanto Aécio tem apenas uma boa tese política, a chamada convergência.
A chapa puro-sangue e o fim da reeleição trazem a idéia de fila na política, com Serra numa posição na frente nessa fila presidencial. Na primeira, os aliados de Serra, principalmente o DEM, abrem mão da vice-presidência para Aécio, com o intuito de unificar as forças políticas e obterem mais condições de trocar de lado com o consórcio governista, ou seja, retomar o poder. É aquilo que Aécio chama de desprendimento, mas dessa vez contra sua candidatura. No caso da reeleição, Serra abre mão de novo mandato, sob a promessa de que Aécio será o candidato em seguida, algo que só mais adiante poderá ter-se certeza de sua eventual candidatura. É o PSDB novamente trazendo uma candidatura para 10 anos de poder. É um filme antigo que nem sempre termina bem (lembrar-se da previsão de Sérgio Motta de 20 anos de poder para o partido). O risco político de Aécio é alto (só é menor que embarcar no PMDB).
Aécio tem total noção do tamanho de sua empreitada. Ela é complexa, difícil, mas não quer dizer impossível. Não se pode subestimar o talento político do governador mineiro. Este aposta nas prévias, ou seja, tenta fazer com que a escolha do candidato seja de forma mais ampla e democrática, por meio do mecanismo de prévias partidárias. Não aceita que o candidato seja ungido apenas pelos caciques partidários. É até cômico falar de ampliação da democracia partidária quando se trata de Aécio. Ele fez parte do trio (Aécio, FHC e Tasso Jeressaiti) que reuniu num restaurante em São Paulo para escolher o candidato do partido para 2006. Nas eleições de Minas, junto com o prefeito petista Fernando Pimentel, escolheu o próximo prefeito de Belo Horizonte num verdadeiro dedaço. Em suma, Aécio representa o caciquismo partidário, as decisões tomadas de cima para baixo. É uma forma legítima de fazer política, embora pouca democrática.
Como os ventos da política mudam, Aécio precisa das prévias partidárias para forçar a disputa interna dentro do PSDB, o que aumenta suas chances, bem como fornece uma justificativa política aos mineiros para o caso de não sair candidato. Ou seja, ele pode perder a indicação do partido, mas não aceita ser atropelado por uma decisão dos caciques partidários. Pimenta nos olhos dos outros é refresco. Obviamente, Aécio não quer provar do próprio veneno.
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