segunda-feira, maio 25, 2009
Patrus, PT e plano B
Reforma Política: Entrevista do professor David Fleischer ao site UOL
Porém, para o cientista político David Fleischer, não há dúvida de que a chamada "janela" - um período para os políticos trocarem de legenda como bem entenderem sem levar em conta a fidelidade partidária - será aprovada, caso a ideia de reforma política avance.
Nascido nos Estados Unidos, Fleischer leciona Ciência Política na Universidade de Brasília desde 1972. Em entrevista ao UOL Notícias, ele comentou a atual proposta de reforma em discussão na Câmara dos Deputados.
Apresentada no último dia 6 de maio por cinco partidos, a proposta de reforma política traz a ideia do financiamento público exclusivo de campanha. Fleischer acha que esse novo tipo de financiamento não acabaria com o "caixa dois" nas campanhas - defensores da proposta dizem que o fim do financiamento privado acabaria com a prática ilícita.
A outra proposta em jogo é a lista partidária fechada. Nela, o cidadão não votaria mais em apenas um candidato nas eleições para os cargos proporcionais - vereadores e deputados. Ao eleitor, caberia escolher somente o partido, com uma lista já pronta de candidatos. Fleischer vê a proposta com bons olhos.
Fleischer falou sobre outras mudanças possíveis no sistema eleitoral brasileiro, mas que não estão em jogo atualmente. Entre elas, está o voto distrital, em que o eleitor escolheria seu representante nas assembleias em unidades menores do que um Estado.
Leia abaixo entrevista ao UOL Notícias.
UOL Notícias - A lista fechada seria benéfica para o Brasil?
David Fleischer - A lista fechada seria uma grande revolução na maneira de eleger deputados e reduziria muito os custos da campanha. Atualmente, 90% dos eleitores votam em nomes e não nos partidos - embora essas duas opções sejam viáveis. O candidato faz a campanha individual durante todo o tempo e nem dá bola para o partido. Ele só faz propaganda do seu número, nunca do número da legenda. Com a propaganda feita somente pelas legendas, diminuiriam os custos.
Fleischer - Se fechar a lista, você tiraria do processo todos os grupos que elegem seus candidatos. Igrejas evangélicas concentram seus votos em um único candidato e o elegem. Sindicatos e grupos étnicos também - como os japoneses em São Paulo e no Paraná. Policias militares são outro exemplo disso. No Estado de São Paulo você tem quatro ou cinco policiais militares deputados, porque se juntam todos os votos dos policiais em poucas pessoas. Com a lista fechada, essas votações por grupo acabariam e você fortaleceria o partido, que teria mais controle e disciplina.
UOL Notícias - Há países que podem servir de modelo ao Brasil?
Fleischer - A lista fechada é usada em 90% dos países com voto proporcional. Só tem uns dois ou três países que usam a aberta além do Brasil, como a Finlândia. A lista aberta é uma aberração. Usamos esse sistema desde 1950 e agora é muito complicado você mudar isso. O problema da mudança é que os deputados são muito ansiosos, eles têm medo de não se reeleger. Atualmente a renovação é de 50%. Com a lista fechada, a renovação pode ser menor, de 20 ou 30%. Ela seria uma grande revolução e reduziria muito os custos.
UOL Notícias - Uma crítica comum à lista fechada é a de ela concentrar o poder na mão de "caciques" partidários e tirar a decisão dos nomes da mão do povo. O senhor concorda com a crítica?
Fleischer - Eu acho que falar que o povo escolhe é balela, é um mito. Muitas vezes você vota no fulano que vai trabalhar para eleger beltrano, por causa das coligações na lista aberta. E a lista fechada não deveria impor exclusivamente ao partido a escolha dos candidatos. Essa nova versão do projeto não estabelece as regras de como devem ser escolhidos os candidatos que farão parte da lista. Os líderes não deveriam impor a decisão, pois os partidos que usarem prévias vão ganhar muito apoio. Isso seria como um estímulo à participação das pessoas na política. O partido mais inteligente vai organizar uma prévia para aumentar muito as filiações. Os partidos que usarem a escolha dos caciques, que devem ser uns quatro ou cinco partidos, estão fadados a perder a eleição.
UOL Notícias - Que outras mudanças poderiam aparecer com a lista fechada?
Fleischer - Fechando a lista, poderia se embutir uma cota para mulheres nela. É como ocorre na Argentina, em que uma mulher tem que constar na lista no terceiro, quinto e sétimo lugar. E é possível a aprovação de uma proposta assim no Brasil, pois as mulheres estão pressionando cada vez mais. Essa proposta ajudaria na inserção da mulher. A Argentina, em 2002, tinha mais ou menos 6% ou 7% de mulheres na política. Agora está em quase 30%.
UOL Notícias - O financiamento público será viável no Brasil?
Fleischer - O que está na proposta dá menos de R$ 1 bilhão para todas as eleições. E nós sabemos que em 2006 elas custaram entre R$ 10 e 15 bilhões. Então é claro que esse valor é insuficiente. Acho o financiamento público uma ideia boa, mas não vejo como vigorar com esses valores.
UOL Notícias - O financiamento público é capaz de inibir o "caixa dois" e deixar a eleição mais equilibrada?
Fleischer - Eu acredito que algumas partes possam ser aprovadas para 2010. A proposta de lista fechada, sem regras de como fazer a lista, pode passar.
Fleischer - Uma reforma de extrema importância, que tem zero chance de ser aprovada, é a da lista suja. A proposta seria a de uma pessoa condenada em primeira instância não poder ser eleita. Porque você tem muita gente que se elege somente para ganhar a imunidade. Outra é a cláusula de barreira de 1%. Parece baixinha, mas em 2006 teria eliminado sete partidos. Proibir as coligações seria outro passo. Mas a federação inteira teria que estar junto para isso ser viável.
Fleischer - Isso depende da ordem que os partidos colocarem os candidatos. Mas isso com certeza vai enfraquecer um pouco alguns partidos. O PC do B não tem voto suficiente para eleger ninguém em nenhum Estado, mas concentra todos seus votos em um candidato aqui, como ele sempre elege três ou quatro em coligações, como no caso do PT. Na lista fechada, vai complicar a situação.
Fleischer - O voto distrital é defendido pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e uma parte do PSDB. Seria uma mudança tão drástica que não emplacaria. O que poderia emplacar é o sistema misto, a semelhança do modelo alemão, onde metade deles seria eleito pelos Estados e outra metade pelos distritos. Isso foi muito discutido na constituinte, mas não emplacou.
Fleischer - Porque com o voto distrital você elimina o candidato que capta voto pelo Estado inteiro, como o Delfim Neto [economista, ministro da Fazenda na ditadura militar, Delfim não conseguiu se reeleger deputado em 2006 pelo PMDB]. Com o sistema distrital você estaria, como muita gente diz, elegendo deputados-vereadores. Mas, na prática, metade dos deputados já é eleita em redutos, de mais ou menos 20 mil ou 25 mil eleitores. Muitas vezes é um ex-prefeito, que regula a região, manda nela. E eles trabalham duramente na Câmara somente para favorecer esse reduto que o elegeu.
quinta-feira, maio 21, 2009
Se Dilma sai, Patrus é o plano B?
Não há como negar que a doença da Dilma colocou incertezas nas eleições de 2010. Governo e oposição estão cada vez mais cautelosos. Lula, PT e seus aliados não arriscarão um plano B enquanto não tiverem certeza da evolução do quadro de saúde da ministra candidata. E como ela cresce a cada nova pesquisa (Vox Populi já aponta Dilma acima de 20% das preferências), o plano B só virá se for inevitável. O que agora não parece haver uma resposta objetiva.
Não por acaso, na propaganda que o PT começou a veicular na televisão, Ananias aparece ao lado de Dilma e Mantega. Por outro lado, a escolha de Patrus poderia resolver o impasse no PT mineiro, além de ser contraponto no segundo colégio eleitoral do país. Veja o que César Maia colocou no seu Ex-Blog:
"O ex-blog já fez alguns comentários sobre a percepção do eleitor em relação a candidatos no Brasil. Realmente, se o perfil/imagem de um candidato de um partido é muito diferente de outro candidato do mesmo partido, não há razão nenhuma no eleitor brasileiro para que mantenha seu voto dentro desse partido. Lula é um personagem visto como de extração popular que subiu na vida. E, mesmo que já esteja de fato na classe média há mais de 25 anos, ou mais da metade de sua vida adulta, entendeu a importância de manter sua imagem de origem. E faz isto com raro talento de ator".
"Dilma é de outra 'família', assim como Dirceu, Palocci, Mercadante, Jacques Wagner, Tarso Genro, profissionais de classe média que se vestem, falam e pensam como classe média. É assim que o eleitor os vê. Por isso, será muito difícil Lula transferir votos para quaisquer deles, além do que, a máquina conduzirá. Seria algo como o ex-presidente Fernando Henrique pedir votos para a ex-senadora Benedita".
"Há apenas um nome para substituir Dilma (em minha visão, mal escolhida por Lula). Esse nome é o ministro Patrus Ananias. Ele pode não ser da família-imagem de primeiro grau de Lula, mas certamente é um primo de segundo grau. Pense num mineirinho de piada, com seu cigarrinho no canto da boca, ironicamente humilde e que tira sarro dos outros que se acham espertos. Se a origem de Lula é campesina, migrante, o mineirinho Patrus também é, só que do interior de Minas. Alguém como Mazzaroppi, para ajudar a visualizar".
"E ainda com a vantagem de ser o gestor do bolsa família. Mazzaroppi, desculpe, Patrus, como primo mineiro do retirante nordestino, absorverá votos transferidos de Lula, fora da máquina. Sei que os marqueteiros de estúdio dirão que ele não estará na linha dos senadores norte-americanos que eles se amarram. Tanto Kennedy quanto possível. Tanto Clinton quanto possível. Se quiser pode publicar no ex-blog, mas sem meu nome. Escrevi essa nota depois de ler seu comentário sobre a eleição presidencial".
quinta-feira, maio 14, 2009
Mito alimenta debate da reforma política
Maria Inês Nassif é editora de Opinião. Escreve às quintas-feiras
E-mail maria.inesnassif@valor.com.br
quarta-feira, maio 13, 2009
O projeto Serra 2010 e a denúncia da Veja contra Yeda Cruisius
Nota 1: Enquanto o PT bate-cabeça, o PSDB já articula com Fogaça. O PT nacional dá sinais de que entregaria de bandeja o governo gaúcho para o PMDB, em troca de apoio à candidatura Dilma. Serra, nesse caso, ficaria enfraquecido no Rio Grande do Sul. Mas o que parece é que o PMDB não quer o PT, prefere o PSDB de Yeda. Afinal, precisaria dividir mais o poder. Desde já o PT deveria colar Yeda no PMDB, desgastando o principal partido de sustentação do seu governo, mas essa atitude poderia atrapalhar o plano de aliança nacional com o partido. Desse jeito, o PMDB se fortalece, aproveitando-se das fraquezas do PT e PSDB.
terça-feira, maio 12, 2009
O PDT morreu. Está enterrado em São Borja
PAULO TIMM*- Olhos d Agua (Alexania-GO) , 6 de maior de 2009 (*)PÁULO TIMM, 65 - Economista, Professor da Unb, Escritor. Fundador do PDT e Signatário da Carta de Lisboa. Candidato aos Governos de Goiás (82) e DF (94).
Comentário do blogueiro:
Sarney 5 X 0 no TSE
sábado, maio 09, 2009
Ministro culpa Pimentel por eventual racha entre PT e PMDB
Segundo Hélio Costa, se petistas ligados ao ex-prefeito de BH rejeitarem coligação, peemedebistas farão aliança com PSDB
Ezequiel Fagundes, do Jornal O Tempo
O ministro das Comunicações, Hélio Costa (PMDB), elevou o tom das críticas contra o ex-prefeito de Belo Horizonte, o petista Fernando Pimentel, que recentemente condenou a antecipação do debate eleitoral e a aproximação entre PMDB e o PT para a formação de chapa visando o governo de Minas. Costa lembrou que o PMDB é o maior partido do país e transferiu toda a responsabilidade para Pimentel caso não consiga costurar uma aliança com o PT para o Palácio da Liberdade.
Segundo Costa, se parte do PT ligada a Pimentel não quiser fazer aliança com o PMDB mineiro, como defende o ministro de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias, e o ministro da Secretaria Geral da Presidência, Luiz Dulci, os peemedebistas vão marchar juntos com o PSDB.
"Se o ex-prefeito Fernando Pimentel não entende que esse é o momento para viabilizar alianças que fique na sua responsabilidade a possibilidade de o PMDB fazer uma aliança com outros partidos. O PMDB hoje está numa posição muito especial. Temos uma ótima relação com o PT? Sim. Mas o PMDB também tem uma ótima relação com o governador Aécio Neves e nada nos impediria de fazer uma aliança com o grupo do governador", avisou o cacique peemedebista.
Costa voltou a dizer que está conversando frequentemente com os ministros Patrus Ananias e Luiz Dulci sobre formação de chapas para o governo estadual. Nos bastidores, especula-se que Costa pode abrir mão de sua candidatura ao governo para compor com Patrus. Segundo ele, os entendimentos estão sendo feitos com o aval da direção estadual e nacional do PT, com a chancela do vice-presidente da República, José Alencar (PRB).
"A gente tem sempre que colocar em primeiro lugar os interesses do Estado de Minas Gerais. Por isso que digo que eu não seria uma dificuldade, um empecilho, para fazer uma aliança visando defender os interesses nacionais e estaduais. Essa é também a opinião dos ministros Patrus e Luiz Dulci", afirmou.
Ao contrário do que pensa Pimentel, Costa disse que é o momento adequado para discutir alianças partidárias. "Nós entendemos que é absolutamente importante que se comece trabalhar imediatamente uma grande aliança, pensando sempre nas candidaturas para presidente e ao governo. Agora os projetos pessoais, as vezes, atrapalham os planos nacional e estadual", argumentou.
Comentário do blogueiro: Primeiro, o ex-prefeito Fernando Pimentel ao lado do deputado Virgílio Guimarães, entre outros, provocaram um racha inédito no PT mineiro. Como se sabe, a melhor forma de derrotar um partido é acirrar a divisão interna. Depois, eles buscam provocar divisão na base de apoio do governo Lula no Estado. A lambança em Belo Horizonte tinha desdobramentos nacionais tímidos, a maior importância era local mesmo. Todavia, se os petistas ligados a Pimentel provocarem outra lambança na costura de alianças para 2010 em Minas, os desdobramentos nacionais serão bem mais significativos. O PMDB mineiro tem uma situação confortável. Pode construir com Patrus um forte candidatura ao governo estadual. Ou pode simplesmente ir para os braços de Aécio, contribuindo inclusive para uma provável candidatura de José Serra. Perde o PT em Minas, e perde a candidatura Dilma também. Minas é decisivo para a candidata do PT. Caso o partido faça opção para o projeto personalista de Pimentel, depois não poderá ficar lamentando eventuais consequências da escolha.
quarta-feira, maio 06, 2009
A ganância do PMDB e os palanques estaduais
Pode ser o caso de Minas Gerais, por exemplo, em que o partido não tem como abrir mão de ter candidatura própria. Evidentemente, o mais apropriado seria um acordo com o PMDB, o que é facilitado pelo bom relacionamento dos ministros Patrus e Hélio Costa, mas a hipótese de duas candidaturas não deve ser descartada.
O PMDB para 2010 deseja obter o sul inteiro (Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná), três estados do sudeste (Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro), a hegemonia no centro-oeste (Distrito Federal, Goiás e Mato Grosso do Sul), e parcela expressiva do norte (Tocantins, Pará, Amazonas, Rondônia e Roraima) e do nordeste (Bahia, Maranhão, Rio Grande do Norte, Piauí e Paraíba). Depois dizem que o PT é que é guloso.
Ainda o PT deverá apoiar candidaturas de outros aliados, como as do PSB em Pernambuco e Ceará, e do PR em Mato Grosso. Só resta ao PT disputar aquelas eleições que os oposicionistas serão mais fortes, a exemplo de São Paulo. E sem o apoio do PMDB. E talvez o PDT no Paraná, caso o PMDB decida apoiá-lo. Se o PT ceder tudo, só sobrará o pequeno Acre para o partido.
Não há dúvida da prioridade da eleição de Dilma para a continuidade do projeto lulista. Mas o partido também deve reforçar sua presença nos estados, além de construir uma estratégia para eleger grande bancada de deputados. Ademais, o PMDB em diversos estados será oposição à candidatura Dilma, como São Paulo e Pernambuco. Rio Grande do Sul é desses casos emblemáticos, mas o PMDB no Estado é PSDB desde criancinha. O Diretório Nacional do PT já tomou decisões que provocaram grandes estragos no passado. É bom tomar cuidado, sempre há espaço para trapalhadas nas alianças.
O PT gaúcho e a polêmica da aliança com o PMDB
O calendário dos petistas gaúchos se viu emparedado pela Direção Nacional e o tema saltou para a mídia. A polêmica visível foi entre Tarso e José Dirceu, sendo que o primeiro acusa um “atropelamento” da agenda estadual. O recurso discursivo de Tarso cala fundo na base dos petistas gaúchos. Ao acusar de intromissão do “centro do país”, o tema mobiliza corações e mentes, incluindo os cansados e desiludidos. Desse modo, pode-se recuperar um pouco da auto-estima perdida, e abrir caminho para uma aliança de tipo “mal menor”, como nas prefeituras de Canoas (com o PP) e de Santa Cruz (com o PTB).
O epicentro gaúcho é a tentativa de costurar um acórdão com o PMDB em escala nacional, incluindo o Rio Grande. Segundo José Dirceu, o PT deve tentar dialogar com o seu maior aliado em nível nacional (e grande rival nas eleições locais), “sem pré-condições e sem ilusões”. Isso por aqui ainda é difícil. Que o partido de Simon é uma federação de caciques e oligarquias estaduais todos sabemos. Também é de entendimento público que esta legenda não se comporta de maneira programática. E, como até as pedras da Rua da Praia sabem, o PMDB do RS governou ombro a ombro com FHC durante seus oito anos de Planalto, incluindo a gestão do deputado Eliseu Padilha como ministro dos Transportes. E, mesmo diante de todas essas evidências, o PMDB é o maior aliado de Lula no país, ocupando postos-chave e sendo decisivo na crise política de 2005. É hora do PT do presidente retribuir em todo o país, incluindo a Província de São Pedro. Eis a “revolta”.
Na verdade, trata-se de puro pragmatismo dos dois lados. Pela racionalidade da política eleitoral do estado, o PT do RS deve se afastar do PMDB. Ao mesmo tempo, para tentar permanecer no Planalto, o movimento deve ser o oposto. Esse é o jogo e não é nada ideológico.
Bruno Lima Rocha é cientista político (www.estrategiaeanalise.com.br / blimarocha@via-rs.net)
Começa a ser decidido o futuro do PT
Caso o PT opte por velhos nomes, o melhor seria Eduardo Suplicy ou Marta Suplicy, em função da densidade eleitoral. Porém, o melhor caminho para o partido seja mesmo a renovação, testando novos nomes, o que não incluiria Palocci. As melhores opções seriam: Fernando Haddad, ministro da Educação, Emídio de Souza, prefeito de Osasco e José Eduardo Cardoso, deputado federal. O último enfrentaria fortes resistências no partido, e o primeiro poderia ser apadrinhado por Lula e surpreender politicamente, a despeito da falta de experiência eleitoral. Emídio de Souza é outra opção de renovação, e parece possuir bom discurso. Segue o artigo.
Thales Guaracy, publicado na Gazeta Mercantil
Esfacelado no governo Lula por denúncias de corrupção, que trituraram suas principais lideranças, o PT encontra-se hoje diante de uma encruzilhada. Por um lado, pode recuperar as raízes, criar um novo projeto mais alinhado com o que viu ser bem-sucedido na era Lula e manter-se como um partido eleitoralmente forte. Ou pode agarrar-se aos nomes chamuscados e às raízes criadas na máquina pública durante seu período no poder para, mesmo sem grande futuro eleitoral, manter-se vivo. Terá, neste caso, um destino semelhante ao do PMDB, um partido que nasceu apoiado em uma boa causa (a luta pela volta à democracia), teve seu período de força eleitoral e vitalidade, e depois de experimentar o poder aproveitou as estruturas nele criadas para sobreviver graças ao fisiologismo.
Para recolocar o PT nos trilhos, é necessário um trabalho de grande envergadura e que começa com a sucessão em São Paulo, cenário onde se definirá não apenas o nome do próximo governador como o destino do partido. Vamos saber, assim que for oficializado o nome do candidato ao governo do estado, para que lado o PT penderá. Em boa parte cabe ao presidente definir os rumos que o partido irá tomar. Lula pode trazer a legenda mais para perto do que deu certo em seu governo - um PT light, fortemente preso ao compromisso tradicional com a distribuição de renda, mas sem o antigo discurso agudo de esquerda - e injetar sangue novo para dar nova face ao partido. Ou pode manter-se apegado aos antigos nomes de um partido enfraquecido, mas ainda capaz de influir. Nesse caso, viraria outro José Sarney.
Pula nos corredores do PT que Lula apóia no governo de São Paulo a candidatura do seu ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci. Em eventos públicos, lideranças importantes do partido, postulantes potenciais ao governo paulista, como a ex-prefeita Marta Suplicy e o senador Aloizio Mercadante, já deram sinal de que darão passagem a Palocci, se esta for a vontade todo-poderosa do presidente. Ventilou-se também o ministro da Educação, Fernando Haddad, como um segundo nome do seu agrado. Cresce dentro do partido, porém, a corrente que busca um nome novo, que possa ser conciliatório - sem romper totalmente com as velhas lideranças, traria um ar novo e ao mesmo tempo promissor nas urnas.
Nessa raia, vem correndo por fora nas preferências dos convencionais do partido o nome de Emidio de Souza, prefeito de Osasco. Ex-metalúrgico de fala mansa, cujo sotaque e timbre da voz lembram muito o ex-ministro e deputado federal José Dirceu, Emidio foi reeleito numa cidade de orçamento importante, sede de algumas das maiores empresas do Brasil, como o Wal-Mart e o Bradesco, mas que sempre foi um município de pouco prestígio político, de onde saiu pouca gente de expressão nacional. Emidio candidata-se à exceção.
Nome em ascensão dentro do PT, pode-se dizer que é em torno dele, e da decisão sobre quem será o candidato ao governo do estado-chave da federação, que será decidido também o destino do partido. Nas últimas semanas, Souza vem percorrendo o interior de São Paulo, de cidade em cidade, em busca de apoio para seu nome. Já obteve declarações favoráveis de lideranças do partido e foi convidado para uma reunião com Lula para falar da sucessão paulista, ao lado de Marta e do próprio Palocci.
Nas conversas de Emidio, que vem se tornando cada vez menos privadas, ele lembra que é um prefeito empreendedor, que trouxe um município que era a 25 economia do estado para o 13 lugar, graças a uma política de desburocratização e incentivo a empresas. Tem também uma frase muito simples para convencer seus pares de qual é sua principal vantagem sobre Palocci na vaga do PT da próxima eleição: "Não tenho de ficar explicando nada". Possui um discurso para ganhar o governo do estado, segundo o qual o PSDB já teve muito tempo para arrumar o que não foi arrumado, como a segurança e a saúde, e que poderia ser a vez de testar o PT. E olha também para o cenário nacional, com a ideia de que São Paulo perdeu a condição de liderança política econômica do País.
Para aqueles que desejam entrar na eleição com o objetivo não apenas de recuperar prestígio como de ganhar de fato a eleição, Palocci aparece como a pior escolha possível. Nas simulações já feitas pelo Datafolha, do jornal Folha de S. Paulo, largou na rabeira. Segundo o levantamento, obtido em resposta estimulada, o ex-ministro aparece com 3% das intenções de voto para o próximo governo paulista, metade do eleitorado de Soninha, e distante assim como o homem está da Lua do líder Geraldo Alckmin, com 46%. Com Marta Suplicy, que levaria 13%, o índice de Alckmin cairia a 41%, mas continua parecendo muito sólido. Nessa pesquisa, o nome de Emidio sequer foi considerado.
Emidio sabe que não é fácil enfrentar o presidente mais popular da história do País dentro de um partido de imagem enfraquecida, mas cuja máquina ainda é poderosa, e que ficou sem outra liderança de peso, caso ele se decida por Palocci. "O que eu quero é que ele ponha a mão em mim, como fez com ele o Barack Obama, e diga: ‘Esse é o cara’", afirma. Mesmo contra o presidente, porém, há uma corrente defensora da antiga vocação do PT de tirar suas novas lideranças da base. E de criar um programa positivo de governo que pode balizar também um projeto de reconstrução do partido, alinhado com aquilo que deu certo no governo mais popular da história.
A missão de Emidio é fazer-se mais conhecido entre empresários e o eleitorado fora de São Paulo, mostrar-se competente tecnicamente como Palocci, mas dono de carisma próprio, de uma conduta e um programa que podem recolocar o partido no caminho certo. Se conseguir, terá obtido um feito realmente histórico de reagrupar uma grande legenda esfrangalhada e poderá surgir de fato como um forte candidato não apenas ao governo do estado como a outros voos futuros. Se falhar, Emidio será tragado junto com o PT a um destino que é, no máximo, ficar exatamente onde está.
Obs: Se o partido não injetar sangue novo, Lula pode se transformar em um Sarney.
sábado, maio 02, 2009
Acordo entre Patrus e Hélio Costa unificaria a base do governo Lula em Minas Gerais
No PT, uma ala do partido continua a apostar no divisionismo como estratégia de obter a hegemonia dentro do partido. Os aliados do ex-prefeito Fernando Pimentel trabalham para afastar o PT do PMDB, do PC do B e do PRB, o que reforçaria a divisão da base do governo Lula em Minas. Tal estratégia pode até viabilizar a candidatura de Pimentel ao governo do Estado, mas representa elevado risco político na estratégia do partido em Minas, incluindo o sucesso da provável candidatura de Dilma dentro do Estado. Além disso, fortalece o campo adversário, do atual governador Aécio Neves. Apesar de não ter candidato forte ao governo do Estado, Aécio certamente se beneficiária de uma eventual divisão no campo lulista.
O PT em Minas precisa tomar juízo, deixando de ser mero instrumento de projetos pessoais. Sendo assim, é urgente a construção de uma candidatura unificadora, dotada de representatividade entre os mais diversos segmentos políticos do Estado. Isso é importante não só para ganhar as eleições, mas também para construir um processo de mudança que represente avanços no campo do desenvolvimento econômico, social e ambiental. É aproveitar os avanços de gestão do governo Aécio para seguir em frente ao novo olhar, com prioridade social e ambiental, mas ao mesmo tempo aproveitando as vocações de cada região do Estado para acelerar o desenvolvimento.
O post anterior traz uma reportagem do Estado de Minas sobre o possível acordo entre os ministros do governo Lula.
Ministros costuram acordo para eleições em Minas
Pré-candidatos ao governo do estado, Patrus Ananias e Hélio Costa defendem unidade entre PT e PMDB, apostando também no entendimento nacional entre as duas legendas
O ministro das Comunicações, Hélio Costa (PMDB), e o ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias (PT), afinam o discurso da sucessão ao Palácio da Liberdade. Ambos potenciais pré-candidatos, encetam um namoro entre as legendas, estremecido nas eleições municipais do ano passado, quando PT e PSDB se aliaram em torno da aliança que elegeu o socialista Márcio Lacerda prefeito de Belo Horizonte. Dos dois lados há acenos que apontam para conversas políticas que têm o aval do ministro da Secretaria Geral da Presidência, Luiz Dulci, e do vice-presidente da República, José Alencar Gomes da Silva, além do PCdoB, da deputada federal Jô Moraes.
“Temos mantido permanente contato”, disse Hélio Costa ao Estado de Minas, ao repercutir as declarações de Patrus Ananias em defesa da unidade entre as legendas no estado. Em Mariana, na Região Central do estado, onde discursou durante a romaria dos trabalhadores, movimentos sociais e da Igreja Católica para comemorar o Dia do Trabalho, Patrus afirmou: “Tenho uma excelente relação com o ministro. Fazemos parte do mesmo governo e estamos conversando sobre a perspectiva de construir uma unidade em Minas”.
Hélio Costa prosseguiu a sequência de afagos: “Acho que tanto da parte do ministro Patrus quanto da minha, há posicionamento claro de que o PT e o PMDB têm construída uma relação. É preciso aprimorá-la com as campanhas majoritárias para o governo de Minas e para o Senado. Não temos a menor dificuldade de fazer qualquer tratativa com o ministro Patrus”.
Hélio Costa disse ainda que antes de nomes, ele e Patrus vão discutir um projeto político em defesa dos interesses de Minas. “Estamos conversando sobre um projeto para o estado, sem preocupações pessoais”, afirmou Hélio Costa, sem detalhar os termos da composição. Mesmo considerando a política mineira, de certa forma, “independente” em relação aos acordos nacionais, Hélio Costa sugeriu que o acerto local entre as legendas poderá ser ajudado pela composição nacional. “O PMDB é um aliado confiável do governo Lula. Esperamos caminhar juntos. No plano nacional, diria que nunca esteve tão bem o relacionamento entre PT e PMDB e tão próxima uma aliança”, afirmou Hélio Costa.
Assim como Hélio Costa, Patrus evitou detalhar as condições de uma aliança entre as duas legendas. Ele também não comentou como se articularia essa aproximação entre o PT e o PMDB com os interesses de Fernando Pimentel, ex-prefeito de Belo Horizonte, que também é pré-candidato ao governo de Minas e, inclusive, já percorre o estado em campanha. “Essa pergunta deve ser feita a ele”, desconversou Patrus.
Ele afirmou ainda ter dado início à caminhada para a indicação de sua candidatura pelo PT e assinalou estar empenhado em unir no estado as forças que apoiam o presidente Lula. “Queremos essa união para que possamos fazer em Minas, sobretudo no campo social, o que estamos fazendo no governo Lula. Nesse sentido, o PMDB é um partido importante”, afirmou. Patrus pregou a responsabilidade do PT de apresentar um projeto alternativo de desenvolvimento econômico, social e ambiental para o estado, a partir das características de cada região mineira.
A movimentação e as declarações dos dois ministros são acompanhadas com interesse pela bancada estadual peemedebista. O vice-líder, Vanderlei Miranda (PMDB), diz trabalhar pela dobradinha entre petistas e peemedebistas. “Nosso partido é a principal base de sustentação do governo Lula. Queremos os dois juntos no plano federal e aqui no estado”. Opinião semelhante manifesta o deputado estadual Sávio Souza Cruz (PMDB): “Temos candidatura própria ao Palácio da Liberdade. Hélio Costa é nosso candidato. Mas a relação política com Patrus Ananias é excelente. Desejamos essa aproximação, a unidade com o PT de Patrus, o verdadeiro PT”, disse.
"Tenho uma excelente relação com o ministro Hélio Costa. Fazemos parte do mesmo governo e estamos conversando sobre a perspectiva de construirmos uma unidade em Minas"
Patrus Ananias (PT), ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
"Há um posicionamento claro de que o PT e o PMDB têm construída uma relação. Estamos conversando sobre um projeto para o estado, sem preocupações pessoais"
Hélio Costa, ministro da Comunicações
sexta-feira, maio 01, 2009
O espetáculo da gripe
O Avanço de Patrus Ananias
Uma segura fonte petista assegurou a este repórter que todo o campo está sendo aplainado para que possa vir a ser viabilizada a candidatura de Patrus Ananias ao governo do Estado de Minas Gerais.