Por Luiz Carlos Azenha, do Blog Vi o Mundo
Lá vamos nós, de novo, embarcar na montanha russa da mídia. Agora é a vez de você, caro telespectador, curtir todas as emoções da gripe seja-lá-como-decidiram-batizá-la.
Uma amiga, no México, me liga: e aí? Fique tranquila. Você não vai pegar gripe. Como assim? Respondo: quantos casos OFICIAIS existem no México? Algumas centenas? Ora, se a Cidade do México tem 22 milhões de habitantes a chance de você pegar a gripe E morrer é tão grande quanto a de acertar na Mega Sena. Oficialmente, ao que eu sei, são menos de 10 mortes no México, que é o epicentro da "epidemia".
Além disso, as chances de você se recuperar da gripe são grandes. É só comparar a relação casos confirmados/mortes no México ou fora dele.
Quantas mortes a malária causa anualmente? Um milhão. Isso mesmo: um milhão de pessoas morrem de malária, doença de pobre, todo ano. É por isso que minha amiga, ao circular na periferia da Cidade do México, descobriu que ninguém usa a máscara. O mexicano comum sabe que é mais provável que morra "atirado" ou atropelado do que de gripe.
Nos próximos dias, teremos todas as manchetes óbvias sobre os bebês, os anões e as mulheres grávidas que pereceram diante da "nova" enfermidade. Meu coração ficará com as vítimas e suas famílias. Nunca com os repórteres que vão fingir preocupação diante de hospitais e centros de pesquisa. Eles estarão a serviço do "espetáculo da gripe", assim como estiveram, não faz muito tempo, a serviço do sacrifício ritual da adolescente Eloá.
"Mas, Azenha, você não acredita na TV?". Costumo dizer que cobro um preço para fazer TV. Para assistir custa mais caro. Não suporto mais "indignação", "preocupação" e "emoção" ensaiadas, de estúdio, essa farsa repetitiva que ocupa o espaço entre dois comerciais.
Comentário do blogueiro: É incrível a capacidade de construção da tragédia humana que a mídia cotidianamente produz. O espetáculo não pode parar. Na época da gripe aviária, a Revista Isto É matou 50 milhoes de pessoas. Sorte que as mortes foram só virtuais, ou seja, fizeram parte do espetáculo. Os pobres mortais, consumidores do espetáculo midiático, não dão tanta importância para essa ausência de lucidez. Mas diverte-se com o espetáculo. O engraçado é ver jornalistas e políticos criticarem as ações do governo despreparado para a tragédia que se aproxima. É para rir mesmo, ou quem sabe chorar. Enquanto isso os governos, a mídia e a poderosa indústria farmacêutica não dão a mínima para acabar com aquelas doenças que matam milhões de pessoas pelo mundo. Menos pobres no mundo. É o dito mercado. Aquilo que não dá dinheiro não interessa a ninguém, nem aos governos que precisam de votos para elegerem.
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