De Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
Os estudos internacionais de ciência política e sociologia do voto mostram que é sempre difícil generalizar a respeito do processo eleitoral, mesmo em países com longa experiência e tradição democrática. Mais complicado ainda naqueles como o Brasil, onde a realização de eleições amplas e livres só passou a ser regra nos últimos 25 anos.
Sobre como esse processo se dá entre nós, existem perguntas importantes cujas respostas não conhecemos, até pela ausência de um número razoável de casos comparáveis. Tudo, por exemplo, que se refere às eleições presidenciais tem como referência apenas as cinco que fizemos mais recentemente. As quatro únicas que havíamos realizado entre a Proclamação da República e 1964 ficaram tão distantes que já não nos ajudam a entender o presente.
Uma dessas questões é sobre quando se pode ser considerar que uma eleição está “resolvida”. Não no sentido de quando seu resultado se torna inexorável, pois isso, é óbvio, só acontece no momento em que o eleitorado vota. Até lá, temos que admitir que mudanças possam ocorrer, mesmo que sua chance seja pequena. Mas no de quando, pelo que se conhece do comportamento dos eleitores, elas adquirirem suas feições mais prováveis, aquelas que só se alteram se algo de extraordinário suceder.
Essa é uma pergunta que passou a ser cabível depois que as pesquisas de opinião se tornaram parte de nossa realidade política. Antes, as pessoas especulavam sobre o que achavam que aconteceria baseadas em seu “faro”, sua “sensibilidade”. Era como adivinhar o sexo dos bebês pela forma do ventre da mãe, em que se podia acertar, mas com chances pouco maiores que 50%, taxa que as pesquisas (embora longe de fornecer certezas) costumam ultrapassar de longe.
As eleições se resolvem quando uma maioria suficiente do eleitorado se decide por uma candidatura. À medida que transcorrem, as pessoas vão tomando contato com as opções existentes, até se fixar naquela que mais perto está do que desejam. Para algumas, é um processo simples: basta conhecer quem representa “seu lado”, seu partido. Eleitores com alto nível de identificação partidária raramente requerem mais que isso para se decidir.
Essa, no entanto, não é a regra geral. Quem não tem (ou tem baixa) identidade político-partidária precisa saber mais sobre os candidatos. Quanto é que são elas. Ninguém sabe ao certo qual é a quantidade de informação que cada tipo de eleitor necessita para se decidir. Por consequência, ninguém é capaz de dizer quando a maioria do eleitorado resolve o que vai fazer.
Uma hipótese que parece provável é que isso depende da eleição e do sentimento das pessoas a respeito do governo que se encerra. Se o sistema político oferece ao cidadão um cardápio com poucas opções, o tempo se reduz, pois ele só tem que resolver se prefere fulano ou beltrano. Se forem muitas, a decisão se complica e mais tempo pode ser necessário.
Toda vez que o eleitor não está satisfeito com o governo, é lógico esperar que procure a mudança. Inversamente, quando gosta dele, que pense em continuidade. Se tiver elevado apreço pelo governo, quer que o seguinte seja o mais parecido com o cessante quanto possível (o que é máximo quando se pode reeleger o titular).
Quando as pessoas querem mudanças e o número de candidatos é grande, os eleitores precisam ter mais tempo para se decidir. Afinal, são várias as possibilidades de mudar e é preciso compará-las.
Quando querem continuidade e as candidaturas são poucas, tudo fica mais simples. Na hora que percebem quem representa melhor seu desejo, elas se decidem. Para elas, a eleição se resolve.
Nas eleições deste ano, a disseminação da informação de que Dilma é a candidata de Lula foi lenta, mas constante. Suas intenções de voto cresceram do mesmo modo, sem sobes e desces, enquanto aumentava o número de pessoas que a identificavam com Lula e a continuidade.
A eleição está resolvida? Para um contingente muito grande do eleitorado, tudo indica que sim. Mas, como aconselha a prudência, é bom lembrar que a eleição só acaba quando termina.
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